Análises
Precisamos falar sobre: ETF, especulação, Bitcoin e expectativas
Acreditamos que as expectativas dos investidores quanto à aprovação do ETF da VanEck são um pouco menores do que o previsto inicialmente. Não acreditamos entretanto que a recusa do ETF dos Winklevoss, emitida em 26/07/18, como anunciamos aqui nesse portal, também se aplique ao pleito da VanEck. A decisão da SEC sobre o pleito da VanEck agora é esperada para 30/09. Na negação dos Winklevoss, a SEC citou preocupações principalmente em torno da manipulação do mercado de Bitcoin, mas também como o instrumento seria precificado. Alguns dirão que no caso dos Winklevoss, a SEC também atrasou por 45 dias a decisão e, como já se sabe, o pleito dos Winklevoss foi negado em seguida.
Como se percebe com a gráfico acima, o mercado já está precificado, com aprovação de ETF ou não. Mesmo diante de expectativas altas em ambos os eventos, o resultado imediato após os anúncios já era de queda. A questão central é que é muito pouco provável que investidores de peso, derramem dinheiro institucional em ETF da noite para o dia. O mercado ainda precisa de mais maturação para que esse volume extraordinário de dinheiro rubricado seja descarregado em grande medida nas cryptomoedas, em particular o Bitcoin.
No entanto, achamos que um ETF de varejo bem projetado poderia ser muito bem-sucedido. Os altos volumes de vendas resultantes atrairão mais instituições para oferecer mais produtos baseados em Bitcoin e, por sua vez, gastarão dólares em marketing nesses produtos, o que, em última análise, impulsionará a valorização real dos preços. No entanto, não vai acontecer a curto ou médio prazo.
Então, embora não acreditemos que o atual ETF da Van Eck vá gerar um volume significativo, vemos a aprovação do ETF da Van Eck como um trampolim para um ETF que terá as características certas para gerar um volume significativo de investimentos em cryptoativos.
Algumas pessoas, talvez mais afoitas ou até mesmo mal intencionadas, gostam de citar o evento da aprovação dos ETF do ouro, como um sinalizador de que após a aprovação do ETF do Bitcoin, um rally poderoso virá logo em seguida. O que pode ser estupidamente enganoso, porque os preços do ouro e de títulos baseados nele, tiveram altas históricas no início do século, pois todas as commodities baseadas em metal, experimentaram forte valorização, por uma década. E esse rally não teve nada a ver com ETF do ouro, mas sim com a demanda aquecida.
Em termos de negociação do Bitcoin, nós não mudamos a nossa visão, estamos em um mercado em bearish que tem pelo menos vários meses pela frente – incluindo vários meses de consolidação. Acreditamos que ficaremos abaixo dos US$6 mil novamente e continuaremos a imprimir baixos níveis até que uma das duas coisas aconteçam:
1- Que aconteçam coisas fundamentais para a consolidação do Bitcoin
2- Até que os mãos de alface parem de vender suas posições em um mercado em baixa
Com ETF ou não, o Bitcoin precisa encontrar um caso de uso que possa orientar a sua avaliação, como uma reserva de valor e também como meio de troca.
Não achamos que a falta de um ETF é o que está impedindo a adoção institucional do Bitcoin. Acreditamos que o puro conservadorismo é a questão que tem mantido os investidores institucionais, afastados das cryptomoedas. Sobretudo os fundos de pensão que geralmente são os mais conservadores, enquanto os fundos de hedge e alguns family offices são os mais agressivos. Os investidores institucionais que gerenciam fundos de pensão e outros planos de aposentadoria precisam ter a confirmação do interesse em larga escala no Bitcoin, por um período mais longo, antes de começarem a comercializar esses tipos de produtos, especialmente se usados como reserva de valor. Além disso, a maioria tem o dever fiduciário de proteger o capital de seus clientes, de modo que investir em um ativo com valor intrínseco zero é uma venda difícil. Para dar uma ideia de como os investidores institucionais agem, imagine um fundo de pensão conservador que tradicionalmente investe em produtos conservadores de renda fixa. O que você acha que aconteceria com o gerente de um fundo de pensão conservador que descarregasse 10% de seu capital no Bitcoin e em outras crypto, tentando pegar o bonde da extrema valorização no final do ano passado? Eles seriam sumariamente demitidos. Até mesmo um fundo de pensão diversificado em muitas altcoins não reduziria o risco porque estas são altamente correlacionadas e acreditamos que a grande maioria das moedas não valerá nada em algum tempo. As cryptomoedas são um ativo de risco e, como vimos no passado, em uma desaceleração nos principais mercados financeiros, todos os ativos de risco são altamente correlacionados. Como já reportamos aqui nesse portal.
Os investidores institucionais não estão entrando no mercado de cryptos por três motivos:
– primeiro, estamos em um mercado de baixa
– segundo, a falta de valor intrínseco nas crypto, mesmo com os entusiastas(todos nós) pregando o conceito de que é uma “reserva de valor”.
– terceiro, por que não há regulação. Dinheiro rubricado não pode fluir para ativos não regulados.
Mas não esqueçamos que outra classe de investimentos sem valor intrínseco é o mercado monetário global. Quem é que pode confiar 100% na mão dos governos na emissão e valor da moeda corrente? Mas de qualquer maneira, somos forçados a acreditar no valor intrínseco do dinheiro estatal. No que tange a títulos baseados em derivativos de câmbio para investidores de varejo, não há muita oferta mesmo. Os participantes nos mercados de câmbio tendem a ser fundos de hedge macro, family offices e bancos. E muitas empresas compram moedas ou instrumentos derivativos para cobrir futuras vendas ou despesas. Existem alguns ETFs de moedas, mas o valor de mercado é limitado em comparação com a maciça capitalização e volume de negociação dos mercados de divisas. Levará muito tempo para que muitos desses diferentes tipos de investidores estabeleçam que há demanda dos clientes por cryptoativos e que se atinjam um nível de conforto para investirem em uma classe de ativos sem valor intrínseco e sem regulação. A outra classe de investimento que vem à mente sem nenhum valor intrínseco é a arte e os itens colecionáveis. Embora essa classe de ativos tenha tido alguma aceitação de investidores de alto patrimônio líquido, ela não decolou para investidores institucionais e ainda é uma classe de ativos muito pequena. Porém, o mercado de arte já está envolvido com as cryptomoedas, com o blockchain e com os STO(Security Token), como já reportamos aqui nesse portal.
Em termos de produtos existentes, duas firmas oferecem fundos que detêm Bitcoin. A GrayScale tem um trust Bitcoin que negocia via OTC nos EUA e o XBT, um ETN negociado na bolsa de Estocolmo. O fundo norte-americano, GBTC, da Grayscale obteve algum sucesso custodiando US$ 1,5 bilhão em ativos, com entradas de cerca de US$ 30 milhões/mês. Não obstante, temos que dizer que esses influxos não são suficientes para mover uma agulha em termos de valorização do preço do Bitcoin. O Trust de Investimento de Bitcoin da GrayScale (GBTC) é um fundo de investimento aberto com um mínimo de US$50 mil de investimento, disponível apenas para investidores credenciados. O GBTC GrayScale foi negociado a um prêmio de 48% do seu NAV(Net asset value). Aí a pergunta que não quer calar vem à tona: o que leva alguém, especialmente um investidor institucional, comprar um ativo, sem valor intrínseco, por um prêmio de 48%, com uma taxa de administração de 2%? Sim, caros amigos: o mercado continua superestimado. Há muita gente especulando e esperando por movimentos ou eventos que elevem o preço do Bitcoin to the moon.
Mas se pegarmos gigantes como Nick Szabo, tido como um dos pretensos criadores do Bitcoin, ele expressa frequentemente sua opinião sobre essa gana por especulação. Seu foco, é a adoção da tecnologia e não sua valorização.
Dumb money is a high time preference addiction. I care much more about Bitcoin’s utility as a globally seamless and censorship-resistant store of value and medium of wealth transfer — hopefully in future with more secure & friendlier wallets.
— Nick Szabo
(@NickSzabo4) 12 de agosto de 2018
I for one am not lobbying for an ETF or for Wall Street-managed money in general. It might cause more problems than it’s worth. The recent sell-off by dumb money has or soon will deprecate many opinionated know-nothings in this space. We don’t need new ones to take their place. https://t.co/s7OxZt9IrJ
— Nick Szabo
(@NickSzabo4) 12 de agosto de 2018
Há outras figuras tão ou mais proeminentes que também são contra ou que consideram a expectativa sobre os ETF’s superestimadas demais, tais como Caitlin Long e Andreas Antonopoulos:
V interesting points abt #bitcoin #ETFs from @aantonop, esp conflict that arises if fork happens that govt officials don’t approve of (ie #confidentialtransactions) & regulated custodians aren’t permitted to follow it-forcing WallSt to fork to “corpoBTC” @TraceMayer @ChristopherA https://t.co/MHFxkIR8w9
— Caitlin Long (@CaitlinLong_) 15 de agosto de 2018
Como entusiastas das cryptomoedas, claro que esperamos que nossos ativos valorizem-se e nos deem retorno. Essa é a expectativa de todos que estão se aventurando hoje nesse mercado nascente. O que não podemos perder de vista é o mundo real(leia-se as leis do mercado/economia)em torno desses ativos e das expectativas de adoção dessas tecnologias.
Mas do que antes, com ETF ou não, o que o Bitcoin/cryptomoedas em geral precisam é de estabilização e consolidação. A especulação e volatilidade extrema é o calcanhar de achilles do Bitcoin e cia.
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