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“O Bitcoin não tem intermediário” SERÁ?

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A todo instante se escuta por ai que “o Bticoin não tem intermediaro porque é P2P, porque é ponto a ponto”. Que besteira! Pessoas que vende cursos, youtubers e muito especialista cometem esse erro crasso ao falarem de Bitcoin. Eles acreditam que comunicação P2P é como duas pessoas de walkie talkie conversando.

A verdade que o uso do termo P2P é apenas uma metonímia, e se utiliza essa figura de linguagem para se referir a uma Rede P2P! Talvez a melhor tradução para Rede Peer to Peer fosse o Rede Par-a-Par que poderia reduzir essa ambiguidade que estão criando.

Satoshi Nakamoto (2008) deixa claro que a revolução do Bitcoin é a retirada de uma autoridade central para validação de comunicações em redes. A confiança é no consenso da rede P2P. A Confiança é distribuída. O Bitcoin acrescenta intermediários e não os extingues. Logo na primeira frase do seu artigo “Bitcoin: A Peer-to-peer Electronic Cash System”, que o objetivo é a retirada de um terceiro confiável ou uma autoridade central. No caso ele cita os bancos:

“Uma versão de dinheiro eletrônico puramente peer-to-peer (par-a-par) permitiria que pagamentos online fossem enviados diretamente de uma pessoa para outra sem a necessidade de passar por uma instituição financeira, como bancos, por exemplo (…)

Nós propomos uma solução ao problema do gasto duplo utilizando uma rede par-a-par (…)”

Quando discorre sobre o funcionamento da rede, Satoshi escreve:

“Os passos para rodar a rede são conforme a seguir:

1) Novas transações são transmitidas para todos os nós;

2) Cada nó coleta novas transações para dentro de um bloco;

3) Cada nó trabalha para encontrar uma prova de trabalho difícil para seu bloco;

4) Quando um nó encontra uma prova-de-trabalho, ele transmite o bloco para todos os nós;

5) Os nós aceitam o bloco somente se todas as transações contidas nele são válidas e não foram gastas anteriormente;

6) Nós de rede expressam a sua aceitação do bloco trabalhando na criação do próximo bloco na cadeia, usando o hash do bloco anterior que foi aceito como o hash anterior. (…)”

Percebe-se que logo no item 1 Satoshi afirma que todas as transações são transmitidas para todos os nodos da rede. Isso acaba com qualquer argumento que a transmissão seja somente entre dois pontos apenas, sem intermediários, como muitos afirmam.

E para facilitar o entendimento, vamos ilustrar:

 

  • Em uma transação online tradicional se necessita de um servidor, uma terceira parte ou uma autoridade central para validar a transação.
  • No Bitcoin é a rede P2P que propaga as transações até se ter a validação por meio do consenso distribuído. O consenso da rede que valida e faz a transação acontecer.

Então o que seria uma rede P2P?

Há inúmeras definições, mas sendo simplório “uma rede P2P é uma arquitetura de redes de computadores onde cada um dos nodos da rede funciona tanto como cliente quanto como servidor, permitindo compartilhamentos de serviços e dados sem a necessidade de um servidor central”. Simplificando, os nodos participantes de uma rede P2P podem acessar arquivos armazenados em outros nodos, como seus arquivos podem ser acessados pelos outros nodos.

Existem vários tipos de arquiteturas de redes P2P e onde algumas redes podem ser classificadas até mesmo como centralizadas. Há níveis diferentes  de centralização entre as redes P2P. Ninguém pode questionar que a Ripple ou Stellar são uma Rede P2P, mas dizer que somente por serem P2P possuem o mesmo nível de descentralização que o Bitcoin é não conhecer o funcionamento e as diferenças de cada criptomoeda.  

Em uma rede P2P de troca de videos, cada nodo possuí catálogos filmes diferentes. Assim, a se fazer uma busca por um filme especifico, é incerto que os nodos conectados ao seu tenham o filme desejado. Dessa forma, os seus nodos pares repassam a outros a sua busca até que o filme seja encontrado na rede. A sua solicitação é propagada a diversos nodos, embora a transferência do vídeo sim, podemos dizer que foi apenas entre o nodo solicitando e o nodo servidor do filme. Além disto, o mesmo filme pode ser compartilhado quantas vezes se desejar, pois não há preocupação com gasto duplo.

Mas vejamos, no Bitcoin como mostamos, o próprio Satoshi descreve “Novas transações são transmitidas para todos os nós”. E diferentes de redes P2P de trocas de filmes, a rede P2P do Bitcoin exige da rede P2P que os nodos participantes tenham sempre disponíveis “os mesmos catálogos”. Talvez por isso a rede P2P do Bitcoin seja tão diferente que a chamamos de Blockchain.  

Na rede P2P do Bitcoin quando um participante deseja realizar uma transação, essa transação também não chegará diretamente ao receptor. Todos os nodos no Bitcoin dispõe das mesmas informações, mas invés de catálogos de filmes os participantes possuem um livro contábil próprio, que obrigatoriamente deve possuir os mesmo registros contábeis dos demais participantes da rede.

Sendo assim, se algum participante tenta realizar uma transação de bitcoins, os nodos próximos serão capazes de atender à solicitação se ela estiver de acordo com os seus livros contábeis próprios. Se os registros contábeis do nodo concordar com a solicitação de transação, ela retransmitirá aos outros nodos participantes da rede, que se concordando, também transmitiram até outros nodos da rede. Essa transmissão ocorrerá até que a rede chegue ao consenso se a transação é válida. Se um ponto recebe uma transação de bitcoin em desacordo com seu livro contábil próprio, ele rejeita a transação e não a propaga.

Conseguem perceber a quantidade intermediários que a rede exige para a validação de uma transação na rede P2P do Bitcoin?

Não há uma entidade central controladora, há é um conjunto de pontos participante, hierarquicamente idênticos, realizando consensos contábeis.

Mesmo todos os nodos dispondo das mesmas informações, graças a criptografia avançada, somente o endereço destinatário terá acesso aos bitcoins transacionados. A rede Bitcoin deve caminhar em sincronia com o bloco e tempo (timestamp). Afirmar que o Bitcoin não teria intermediário seria ignorar o consenso de prova de trabalho da rede.

E sobre o consenso utilizado pela rede P2P falaremos depois, mas por favor, nunca mais repita que “o Bitcoin não tem intermediário porque é ponto a ponto”!

 

João Guilherme Lyra é administrador, pós-graduado em Gestão e Marketing – ESPM, Mestre em Sistema de Gestão pela UFF, pesquisador de criptomoedas e tecnologia blockchain e é Autor do livro Blockchain e Organizações Descentralizadas.

 

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