Há poucos dias foi noticiado no mundo todo, aos 4 cantos e ventos que o Bitcoin, havia alcançado a cifra de R$24 mil no Irã. Algo que chamou a atenção de todos. Mas alguém chegou a explicar realmente o porque disso? E o que isso significa de fato? Vamos às questões:
Esse avanço está atrelado com as regulamentações internas do país, que passou a reconhecer a mineração de Bitcoin como uma indústria. Conforme já havíamos noticiado, os cryptoativos tem sido a alternativa que governos como o da Venezuela tem usado para fugir das sanções econômicas dos Estados Unidos. No irã em igual medida, temos visto algo parecido, mas não na mesma proporção vista na Venezuela.
Devido às mudanças cambiais ocorridas na Venezuela nas últimas semanas, não há dados atualizados. Contudo, no último dia 18/08, foram negociados 430 BTC: US$292.656.096.
Com a divulgação do reconhecimento da mineração, o preço do Bitcoin disparou nas bolsas locais. O melhor cenário foi registrado com a cotação de R$ 24 mil. Ou seja, essa cotação supera a então melhor marca já alcançada pela moeda, os lendários R$ 20 mil em dezembro passado. A Exir, a maior exchange iraniana, registra hoje no momento dessa redação uma cotação ainda maior: R$26.232, algo em torno de 91 milhões de rial. Um rial vale 0.000024 de dólar.
Segundo Abolhassan Firouzabadi, secretário do Conselho Supremo do Ciberespaço, afirma que o banco central iraniano está elaborando uma regulação menos restritiva ao cryptoespaço iraniano. O banco central iraniano já está debruçado sobre as possibilidades de regulação desde novembro passado e a reboque o Bitcoin tem subido toda vez que o BC iraniano sinaliza algo. Na última vez que houve sinalização positiva, o Bitcoin bateu o recorde daquele período: US$8300.
O Irã, justamente com a Arábia Saudita tem apresentado os maiores volumes de negociação de Bitcoins no oriente médio. Muito disso, motivado pelas sanções econômicas que estão em vigor contra o Irã, desde o governo Obama. Enquanto na Arábia Saudita, é devido ao cerco financeiro imposto pela ditadura monárquica dos Sauds.
Volume de 41 BTC negociado em 25/08. Últimos dados atualizados.
Mas não se enganem. Não há oportunidade de arbitragem nessa história, minha gente. Há vários problemas envolvidos numa tentativa de arbitragem:
1- A Exir, a única exchange legalizada no Irã não aceita depósito oriundo de IP’s que não sejam local. Se algum movimento via VPN for tentado, o depósito é perdido/cancelado.
2- Se por acaso alguém quiser realizar depósito via rial, não há como enviar dinheiro via meios oficiais, pois somente há três bancos atualmente autorizados a operar com remessas estrangeiras: BCP BANK(via filial Dubai), KBC BANK e HALK BANK. Ainda assim, há outros problemas: não há um euro se quer em Teerã. Logo, o câmbio é impossível.
3- E se ainda assim, alguém insistir na ideia de remessa internacional e conseguir via Turquia ou Dubai, enviar dinheiro para lá, mesmo que consiga comprar o Bitcoin na Exir, vendê-lo e tentar mandar o lucro para fora, há fortes possibilidades do dinheiro ficar retido em algum banco pelo meio do caminho.
4- Via Localbitcoins, só há transação via webmoney para iranianos vendendo. Se você quiser abrir uma ordem de compra, os métodos de pagamentos, passam por todos os trâmites narrados acima.
Contudo amigos, o Bitcoin não é a forma mais utilizada pelos iranianos para transacionar dinheiro com o exterior. O sistema que eles mais usam é o Hawala.
Como o sistema é baseado na honra, os corretores – assim como os bancos – sabem que vão sair do negócio se renegarem um acordo. E é muito rápido – com tempos médios de transferência de 48 horas, é muito mais rápido que uma transferência bancária internacional ou a Western Union, graças à ausência de burocracia. O Hawala também pode ser muito mais barato que os métodos tradicionais.
Os negociantes iranianos de hawala cobram uma taxa – tipicamente 1-1,5% do total ou às vezes um flat de US$ 50 – ou usam spreads de taxa de câmbio para gerar sua renda. Em uma variação desse processo, o cambista em Teerã usa uma contraparte em Dubai, que deposita o dinheiro em uma conta bancária no emirado e então transfere o dinheiro através do sistema bancário internacional.
Este sistema é o mais usado pela maioria da população que precisa transacionar com o exterior. O Bitcoin ainda não é a primeira opção dos negociantes de tapetes persas para realizarem suas compras na China, por exemplo.