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Precisamos falar sobre Tether

Entre os muitos mistérios que estão no âmago do mercado de cryptomoedas, estão as seguintes questões sobre a Tether:

Será que há mesmo cerca de US$ 3 bilhões guardados em banco para dar lastro à paridade de 1/1?

Por que os maiores volumes de Tether sendo negociados no mundo estão nas exchanges asiáticas e não na Bitfinex?

A moeda, que começou a ser negociada em 2015, é descrita como uma alternativa estável às oscilações dos preços do Bitcoin. O dono de um restaurante que aceitar Bitcoin, mas teme que a volatilidade possa impactar seu caixa, pode assim transformar Bitcoin em Tether, o que pode ser mais fácil de fazer do que trocar Bitcoins por Real, por exemplo. Trata-se inclusive de uma excelente ferramenta para traders profissionais. Seu preço ficou próximo de US$ 1 durante a maior parte de sua vida, porque a Tether, a empresa por trás do token, diz que cada unidade é respaldada por um dólar americano mantido em reserva. Como há US$ 2.7 bilhões em circulação, deve haver a mesma quantidade em contas bancárias em algum lugar. Aí que mora a questão.

A Tether contratou um escritório para realizar uma auditoria e divulgou em seu Twitter o seguinte:

 

Contudo, o anúncio dessa dita auditoria, só levantou mais questões e atraiu a atenção de gente que tem USDT nas mãos e anda louco para se livrar desse ativo.

 

Como é o caso Oguz Serdar, no tweet acima. Ele é um cidadão turco, que possui US$1 milhão em USDT e vem tentando negociar esse montante, mas que não consegue a liquidez necessária em nenhuma exchange no mundo. Pois toda vez que ele insere uma ordem de venda, os preços caem imediatamente.

Ele inclusive tentou, sem sucesso, trocar diretamente seus USDT por dólar junto à Tether, que se recusou a divulgar seus bancos e, em vez disso, recomendou em um e-mail que ele tentasse vender em uma exchange. Uma que opera nesse par é Kraken, mas Serdar não acha que o mercado poderia lidar com sua demanda.

“Tenta-se vender US$ 1 milhão de dólares, o preço cai a zero.” – disse Serdar

No site do Tether há uma alegação:

“cada tether é sempre respaldado de 1 para 1 pela moeda tradicional mantida em nossas reservas”.

O site também diz que cada tether pode ser resgatado por US$ 1. Mas em seus termos de serviço afirmam algo a se pensar:

“Não existe direito contratual ou outro direito ou reivindicação legal contra nós para resgatar ou trocar suas ações por dinheiro. Nós não garantimos nenhum direito de resgate ou troca de títulos por nós por dinheiro ”.

Percebem a malandragem?

Nem a Tether nem a Bitfinex divulgam em seus sites ou em quaisquer documentos públicos onde os fundos estão localizados ou quem está no comando. Contudo, tanto a Tether e quanto a Bitfinex compartilham uma equipe de gerenciamento, incluindo van der Velde, o CEO da Bitfinex. Pouco se sabe sobre como as empresas cooperam ou permanecem separadas. Jan Ludovicus van der Velde é CEO da Bitfinex e da Tether. Uma página no LinkedIn de alguém chamado JL van der Velde, que se identifica como CEO da Bitfinex, fala holandês, inglês, alemão, italiano e chinês, frequentou a Universidade Nacional Normal de Taiwan de 1985 a 1988 e foi anteriormente CEO da PAG Asia Inc.

Imbróglios bancários

Em 2 de dezembro, a Bitfinex divulgou um relatório trimestral anunciando que deixaria de atender dos clientes dos EUA porque é muito caro fazer negócios com eles. Isso ocorreu após a decisão da Wells Fargo & Co. no início do ano de encerrar sua relação de banco correspondente, através da qual os clientes nos EUA podiam enviar dinheiro para os bancos que atendem a Bitfinex e Tether, em Taiwan. Ambas entraram com uma ação contra a Wells Fargo, mas depois retiraram o caso. Isso cortou o acesso das empresas a dólares americanos. A decisão do Wells Fargo ameaçou todo o negócio.

A Bitfinex e a Tether identificaram quatro bancos taiwaneses na ação judicial da Wells Fargo. No entanto, ambas se recusam a divulgar quais seriam esses bancos.

Atualmente a Bitfinex/Tether utilizam um banco porto riquenho, o Noble. Como uma Entidade Financeira Internacional, o Noble deve relatar atividades financeiras suspeitas e ajudar as agências governamentais dos EUA a banir a lavagem de dinheiro, mas as contas de não-americanos podem permanecer anônimas se os ativos forem mantidos por meio de empresas ou trusts offshore. Algumas das atividades de clientes da Bitfinex na Noble podem ser protegidas sob essas regras por causa de seu registro na Ilha Virgem Britânica.

No ano passado, a Bitfinex buscou a ajuda da Crypto Capital Corp., uma empresa panamenha. Através de seu presidente, um canadense que vive na cidade do Panamá chamado Ivan Manuel Molina Lee, a Crypto Capital tinha ligações com Bank Spoldzielczy em Skierniewice, na Polônia, que a Bitfinex aparentemente usava para depósitos em euros, e a Caixa Geral de Depositos SA, em Portugal.

Sede do banco polonês que apresentou ano passado um rendimento anual de apenas US$5 milhões.

No que tange à Polônia, ainda há mais imbróglios. Empresa estabelecida na Polônia que o capital social é de cerca de US$1500 chamada Crypto Sp. Z. O.O.  Segue os dados dela aqui no ministério da fazenda polonês.

 

A empresa foi criada por Ivan Manuel Molina Lee. Aparentemente, o Sr. Lee é um CEO para contratar.

A principal acionista dessa empresa é a Crypto Capital, do Panamá. Qualquer ligação não é mera coincidência, caros leitores.

 

As estranhas operações entre BTC/USDT

Há também as suspeitas de que o pump passado em dezembro pelo Bitcoin tenha sido inflado com operações feitas com Tether. O que mais se nota é que atualmente, a Bitfinex não opera mais com USDT/BTC no seu portfólio.

Há uma dezena de exchanges que operam com USDT em seus pares, conforme nos mostra a relação de mercado da Tether, na CoinMarketCap.  Mas vejam só que inusitado, caros amigos desse portal. Vejam o volume de USDT na Binance e Kraken:

A Binance possui um volume diário colossal de BTC/USDT, enquanto a Kraken não apresenta nem US$1 milhão de doláres em operações diárias com o par USDT/USD. A Binance opera com o par BTC/USDT, porque ela não aceita, ainda operação com moeda fiat. Mas isso está mudando, como já anunciamos aqui nesse portal.

O que queremos destacar nessas relações do Tether com as exchanges é que a Bifinex caiu fora desse mercado, enquanto as demais estão operando como se não houvesse amanhã.

A Kraken em particular está passando por situação ainda mais inusitada. Pois é acusada pela Bloomberg por estar manipulando o mercado, mexendo no seu volume de negócios no par BTC/USDT. Porém, o que se deve notar é que o volume da Kraken é irrisório diante do volume da Binance. Vejamos o book da Kraken:

 

O que chama atenção no book da Kraken e o que levanta a questão de manipulação de mercado, mesmo esta tendo um volume muito menor é que a parede de compra e venda são praticamente simétricas.

A Kraken está entre os poucos mercados em todo o mundo que permitem que os investidores negociem dólares americanos por Tether e vice-versa. Então pode-se supor que Kraken deve desempenhar um papel importante no estabelecimento do preço do Tether? Para a Bloomberg, sim. A Kraken, naturalmente nega.

Em 9 de maio, oito negociações de venda de 13.076.389 tokens ocorreram sucessivamente em 16 segundos, mas o preço de Tether ficou inalterado em 0,999. A próxima negociação – por apenas 75 tethers – elevou o preço em 0,0001.

Segundo a Kraken, o que ocorreu foi o seguinte: Esses padrões aparecem em todo o conjunto de dados que a Bloomberg baixou da Kraken. Embora a compra fosse maior que a venda – cerca de US$ 50 milhões, contra US$ 32 milhões entre 1 de maio a 22 de junho – o preço do Tether variou apenas de 1,0095 a 0,989. Valores como 34.05478 e 30.06946 e 34.14089 são relativamente comuns. Por que os negócios seriam tão precisos?

Porém, o que não faz sentido na alegação da Kraken é justamente o seu volume. Lembram: US$ 843 mil diariamente. Outro ponto que vem de encontro a alegação de Oguz Serdar sobre sua tentativa de venda dos USDT na Kraken – toda vez que uma ordem de US$ 1milhão era inserida no book, o preço caía imediatamente.

O argumento que sustenta a alegação da Kraken de que é quase “impossível” que ela esteja manipulando o mercado, está baseada justamente no seu volume. Outra alegação usada e que serve para limpar a barra da Tether, da acusação de que o USDT foi usado para inflar os preços do Bitcoin é que, o volume de USDT negociado em mais de duzentas exchanges ao redor do mundo, aumentou cerca de 61% entre janeiro de 2017 a abril de 2018.

Mas ainda há vozes dissonantes sobre a natureza e futuro da Tether:

Para Nouriel Roubini, tanto o USDT quanto o Bitcoin estão intrínsecamente comprometidos:

 

Tether – Preço

Preço USD Abertura Alta Baixa
$0.998561 (0.13%) $0.9981 $1 $0.995

Tether – Dados de mercado

Market Cap Suprimento
$2.7B 2.71B USDT

Tether – Dados de negociação

Volume (24h) %(1h) %(24h) %(7d)
$2.7B (-0.08) (0.13%) (0.01)

Tether Markets

Volume de US$ 2,7 bilhões negociado nas últimas 24 horas.

Rank
Exchange
Volume (24HR)
Trade Pair
#1 Binance $224.336.000 USDT/USD
#2 Okex $137.804.000 USDT/USD
#3 ZB.com $71.167.500 BTC/USD
#4 Huobi $68.278.000 BTC/USD
#5 HitBTC $61.566.900 USDT/USD
#6 Kraken $812.681 USDT/USD
#7 Exmo $316.473 USDT/USD
#8 iQuant $237.855 USDT/BTC
#9 Bittrex $164.256 USDT/USD
#10 Cryptopia $164.096 USDT/BTC

 

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Empreendedor, Cientista de Dados e cryptopesquisador.

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