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O que a indústria do Blockchain e a grande corrida do ouro americano têm em comum?

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O que está acontecendo hoje com o mercado de criptomoedas é uma reminiscência do boom das ponto-com nos anos 90. As pessoas que investem em empresas de tecnologia e ideias extremamente ambiciosas de um futuro mais conectado estavam fazendo milhões de dólares quase da noite para o dia. As ações das empresas da Internet subiram como um louco, e tudo isso foi baseado em especulações. Grande parte da tecnologia ainda não havia sido adotada em escala, mas todos estavam apostando que um dia seria.

Algumas dessas empresas ainda estão por aí hoje. Muitas outras não.

Mas voltemos à uma perspectiva ainda mais ampla, e o que está acontecendo com a tecnologia baseada em blockchain, é semelhante à grande corrida do ouro americano que aconteceu em meados dos anos 1800. Em 1848, quando descobriu-se que o ouro havia sido descoberto na Califórnia, indústrias inteiras começaram a crescer com a esperança de capitalizar a oportunidade. Os empresários da época começaram a comprar lojas que vendiam panelas, picaretas e pás para escavar ouro. Empresas maiores investiram fortemente em ferrovias e transporte. E tudo isso foi feito antes que as quantidades em massa de ouro realmente fossem encontradas – todo esse evento foi baseado em especulação.

Em certo sentido, é exatamente o que está acontecendo no espaço do blockchain e das criptomoedas hoje.

Inovadores, investidores, tecnólogos, entusiastas – todos nós estamos nos perguntando como que essas mesmas “panelas, picaretas e pás” vão entrar em cena e servir para nos dar espaço para explorarmos as oportunidades dentro desse cenário tão rico e instigante. Que novas indústrias e empresas surgirão como resultado da pressa em direção a adoção antecipada dessas tecnologias? E, por outro lado, o que precisa ser descoberto e criado para que o blockchain seja bem-sucedido e, para todo esse investimento inicial se pague no final?

No momento, parece que há um infinito número de possibilidades em que se pode interagir com a cadeia de blocos do blockchain, e nos últimos 3 a 4 anos, pessoas e empresas têm desenvolvido suas próprias interfaces e contratos inteligentes. Mas, para que esses esforços realmente escalem, é necessário que haja algum tipo de padrão global, semelhante aos protocolos que sustentam a Internet.

Você precisa se lembrar, a Internet não “decolou” até que um tipo de linguagem universal fosse estabelecido para que os usuários comuns pudessem construir em cima dele. Algo que está sendo feito atualmente na Aliança Trusted IoT, para trabalhar na criação de um sistema de padrões para protocolos globais, para o caso de uso específico de registro de identidades em dispositivos e sensores IoT. É preciso haver uma padronização de protocolos para que o blockchain público se comunique e haja interoperabilidade entre os diversos blockchains privados que surgirão com serviços específicos e infraestrutura compartilhada, em algum cenário que por ventura surja no mercado em breve.

Esta é apenas uma pequena parcela de esforço do que precisa acontecer dentro da indústria, para que ela se torne verdadeiramente bem-sucedida, mas é um exemplo de uma sub-indústria que surgiu como resultado da “corrida de ouro” em direção à inovação e adoção de uma economia baseada em criptoativos.

Um outro desafio, e potencialmente um obstáculo ainda maior, é como prover uma carteira acessível e de fácil uso a todos. Levando em conta o binômio: praticidade e segurança.

Em primeiro lugar, a linguagem desta indústria está enraizada no mundo das finanças e, portanto, é confusa para os consumidores comuns. Muitas pessoas não sabem o que “mineração” significa, ou o que um “token” realmente é. Então, até que possamos chegar a termos mais amplamente entendidos, será desafiador convencer as massas de como e por que usar uma carteira de criptografia.

Em segundo lugar, uma das maiores barreiras à entrada para o blockchain do consumidor é a inacessibilidade de uma carteira para o consumidor final. As carteiras que atualmente existem são confusas e difíceis de acessar. Eles também servem apenas para um propósito: trocar criptomoedas.

Para que as carteiras sejam adotadas em grande escala, algumas coisas precisarão acontecer:

1. Menos ênfase deve ser colocada na própria tecnologia.

Este é “o grande debate” no mundo da tecnologia, esse equilíbrio entre UI e UX. Os arquitetos da UX tendem a colocar a funcionalidade sobre o design estético, e os designers de UI tendem a colocar o design sobre a função. A verdade é que todo produto excelente exige ambos.

Onde as carteiras de criptomoedas estão falhando atualmente, é que elas são quase inteiramente construídas para funcionar, em vez de considerar como fazer o usuário experimentar algo fluído e elegante.

2. Todo consumidor precisará acessar sua carteira em seus dispositivos móveis.

Esta carteira pode e irá impulsionar todo tipo de experiências, transações e verificações diferentes. No entanto, as carteiras atuais são reservadas exclusivamente para criptografia e transações. E mesmo que essas carteiras tenham um propósito, elas ainda não são muito amigáveis.

Por exemplo, se você se descobrir, sem dinheiro, e quiser usar sua carteira de criptomoedas, o processo de acesso à sua carteira não deve levar quinze minutos. Essa experiência incômoda derrota o propósito.

Assim, para que as carteiras se tornem mainstream, elas precisam ser tão acessíveis quanto seu cartão de crédito/débito.

Estas são apenas algumas das mudanças que precisarão acontecer ao longo dos próximos anos, para que a tecnologia do blockchain comece a atuar como uma infraestrutura para as inovações do futuro do mercado de criptomoedas.

3. As redes baseadas em blockchain precisam ser rápidas.

Este é outro ponto negrálgico no ecossistema de criptomoedas: As redes não são instantâneas como a rede da Visa por exemplo. Há um delay incômodo na rede do bitcoin no que tange a sua facilidade e adoção como principal meio de pagamento. Nenhuma operação acontece em tempo real. Havendo necessidade de várias rodadas de confirmação em todos os nós da rede para que uma operação seja enfim, creditada na outra ponta. Para que uma operação de pagamento seja um pouco mais rápida a comissão paga aos mineiros no blockchain precisa ser maior que o padrão. Numa situação dessas, por exemplo, se formos pagar um cafezinho de R$2, para que a operação seja mais rápida, pagaria-se em média R$5 de comissão à rede. O que torna a adoção do bitcoin como meio de pagamento uma opção ruim.

4- A consolidação do bitcoin como reserva de valor, ao invés de se tentar torná-lo um meio de pagamento.

Como foi falado no item 3, a adoção do bitcoin como meio de pagamento trivial, pode não ser a melhor opção para as partes que estejam transacionando pequenos ativos/pagamentos. O que concede aos meios de pagamentos comuns uma posição mais vantajosa. Contudo, o bitcoin é uma “excelente” ferramenta de hedge,assim como o ouro, pelo menos tem sido, pois sua cotação tem sido ascendente nos últimos anos. A adoção do bitcoin como um ativo financeiro, hoje faz muito mais sentido, do que um meio de pagamento. Algumas personalidades de peso como John MacFee acreditam que o bitcoin chegará a valer US$500 mil até o final do século se ele continuar a manter sua valorização exponencial ou entre US$ 20 mil a US$ 50 mil até final dessa década.

5- Com o blockchain se tornará(já é)uma excelente ferramenta para transferência de valores.

Desconsiderando o delay nas operações como já foi mencionado acima, para uma rede blockchain pouco importa a quantidade de fundos que está sendo transferida. A rede não onera o negociante pelo tamanho de sua transação. Tanto faz transacionar US$0,01 ou US$ 1 bilhão. O custo será sempre o mesmo. Qual banco no mundo faz isso? Nenhum.

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