Análises
Cryptoativos: O novo mundo está começando a se parecer muito com o antigo
Esqueça o que você ouviu. Apesar do sentimento negativo e da baixa continuada, o ecossistema de projetos baseados em blockchain, tem experimentado um rápido crescimento e maturação. O foco no preço dos tokens listados publicamente em exchanges, como indicativo sobre o cenário, é equivocado para se analisar a saúde do ecossistema. Neste trimestre, vimos um aumento em projetos corporativos de blockchain e anúncios regulatórios favoráveis. Apesar da baixa do Bitcoin e das demais cryptos à reboque.
Embora o mercado continue amargando um longo “inverno”, o capital de risco e as fusões e aquisições atingiram novos recordes. 343 ICO’s levantaram cerca de US$ 1,8 bilhão este ano em capital de risco. À medida que as finanças tradicionais avançaram, o interesse dos investidores no varejo das cryptomoedas caiu. No segundo trimestre, vimos – pela primeira vez – uma queda trimestral em relação ao valor captado através de vendas de tokens. Embora o total arrecadado através de vendas de tokens tenha ultrapassado o de 2017, o valor é significativamente inflacionado pelos ICO’s da EOS que levantou US$ 4 bilhões e de US$ 1,7 bilhão do Telegram que não foi pública.
A esperada recuperação do Bitcoin nos próximos meses, devido a rumores de um fundo negociado em bolsa (ETF), pode levar os investidores de varejo a manter seus tokens em vez de investir em novos projetos. No entanto, assim como a indústria tradicional de investimentos, estamos começando a ver diferentes participantes com diferentes perfis de risco e prazos de retorno. Os projetos Premium estão escolhendo uma combinação de capital para garantir um conjunto mais diversificado de participantes e assim aumentar a probabilidade de projetos mais sustentáveis.
O advento das cryptomoedas, a tecnologia blockchain e os contratos inteligentes inauguraram uma forma ainda mais eficiente para os empreendedores levantarem capital sem o uso de um intermediário ou muitas regras aplicáveis às IPO. Por exemplo, a ICO do Telegram, embora fosse acessível ao público, não apenas a investidores credenciados, o aplicativo arrecadou US$ 850 milhões, marcando um dos maiores eventos de arrecadação de fundos na história da tecnologia, como já reportamos aqui nesse portal.
No espaço do blockchain e ledger distribuído (DLT), as empresas continuam experimentando e implantando soluções blockchain em seus serviços. É importante frisar que o blockchain é mais uma invenção econômica que somente tecnológica, como já reportamos aqui nesse portal. Desde o Walmart integrando blockchains a suas cadeias de suprimento para rastrear alimentos até provedores de seguros que conectam mais de 100 hospitais para acelerar as reclamações, o uso de blockchains está se tornando amplo e variado. Algumas das maiores empresas do mundo, incluindo empresas como Facebook, Google, Ant Financial e Baidu, estão lançando produtos que irão impactar o ecossistema.
Com empresas de milhões e bilhões de dólares se envolvendo no espaço, esperamos ver um foco renovado na experiência do usuário e tornar mais fácil para desenvolvedores e consumidores interagir com a tecnologia blockchain. A usabilidade ainda é o maior calcanhar de achilles do cryptomercado. Assim como o usuário médio do Gmail não sabe nada sobre SMTP (Simple Mail Transfer Protocol), em breve veremos os aplicativos blockchain sendo usados sem que os usuários estejam cientes da tecnologia em si.
Reguladores estão se familiarizando com o potencial inovador dos blockchains
Reguladores em todo o mundo estão rapidamente estabelecendo consultas, forças-tarefa e workshops para descobrir como equilibrar a proteção e a inovação ao consumidor. Mais notavelmente, o trimestre teve o FSB (Conselho de Estabilidade Financeira) do G20 sugerindo que os tokens não representam uma ameaça à estabilidade dos mercados financeiros globalmente. Eles seguiram com o comentário em julho com uma estrutura para ajudar os países membros a avaliar os riscos envolvidos na habilitação de mercados baseados em tokens em sua jurisdição. O que não temos visto com muita frequência e empenho por parte da CVM e do Bacen pelas terris Brasília. O Brasil como sempre andando na contramão do restante do mundo. Contudo, ainda há esperança. O BNDES está empenhado no desenvolvimento do ecossistema de Blockchain no Brasil. Como já reportamos aqui em primeira mão nesse portal.
A estrutura do FSB considera os riscos decorrentes de vendas de token público, futuros baseados em tokens e infraestrutura bancária usados para suportar as transações em cryptoativos. Da mesma forma, Christine Lagarde, do Fundo Monetário Internacional (FMI), comentou sobre a necessidade de ser cauteloso quanto a regulamentações rígidas, pois elas podem sufocar a inovação genuína que os DLT e os blockchains representam.
Resumindo: ignore os mercados. Esqueça um pouco a especulação. Estude mais sobre o impacto que essas tecnologias estão realmente trazendo à sociedade. Investir no aprendizado agora fará toda a diferença.
O ecossistema está amadurecendo. Ele está crescendo, tornando-se mais diversificado e atendendo a mais casos de uso do que nunca. É um momento emocionante se você puder ignorar os mercados.
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Empreendedor, Cientista de Dados e cryptopesquisador.