Blockchain

Aceleradora de start ups busca projetos de blockchain

Published on 24 de junho de 2018

Bonnie Cheung, administradora de um fundo venture capital, a 500 Startups, leu centenas de white papers de projetos de blockchain para selecionar alguns que a empresa de investimento pretende investir em start ups e acelerar outras empresas promissoras. Como as coisas tendem a progredir com hipervelocidade no universo de blockchain em comparação com outras indústrias, a 500 Startups investiu em projetos suficientes para resolver a questão da “escalabilidade” em questão de quatro a cinco meses. Por enquanto, ela quer ver mais projetos focados em resolver os outros dois desafios-chave para a adoção em massa de blockchain: operacionalidade e privacidade entre blockchains.

Em abril, a 500 Startups anunciou seu último lote de investimentos para seu principal Acelerador Semente, que incluiu dois projetos blockchain: Metadium, uma plataforma de serviços que fornece os fundamentos para vários provedores de serviços desenvolverem seus negócios em blockchain, e Solana, um blockchain de alto desempenho que pode escalar mais de 700.000 transações por segundo.

Um mês antes, junto com a Huobi Labs, a empresa anunciou três empresas de blockchain para participar de seu programa blockchain track. As empresas incluíam a Libra Credit, um ecossistema de empréstimos descentralizado, e o Metadium, uma plataforma de autenticação e identidade descentralizada, além da Solana.

Cheung, ex-gerente da Deloitte e da empresa de saúde e agronegócios The Zuellig Group, conversou conosco na semana passada sobre os desafios que os blockchain enfrentam no caminho da adoção em massa, onde estão as melhores oportunidades de investimento e as principais tendências a indústria daqui para frente.

P: Para 500 Startups, onde você encontra as melhores oportunidades de investimento no blockchain agora?

R: Nós nos concentramos em três áreas principais no espaço do blockchain. Uma é a escalabilidade. Se você observar a taxa de transferência da transação, a Visa pode fazer uma média de 2.000 transações por segundo. O Paypal pode fazer cerca de 500, mas o Bitcoin está em cerca de 7 transações por segundo, e o Ethereum atinge no máximo de 50. Ainda estamos muito longe do tipo de throughput que a indústria de pagamentos precisa e queremos ver.

A segunda área é a operabilidade entre os blockchains. Acreditamos que, por acaso, não haverá um blockchain que faça tudo para todos. Haverá muitos blockchains no mundo, e as comunicações entre todos esses blockchains diferentes serão muito desafiadoras, e onde as grandes oportunidades estão.

A terceira área é a privacidade. Muitas pessoas assumem que as cryptomoedas tem tudo a ver com o anonimato e é, por natureza, privada. Mas isso não é verdade. Hoje, se você compartilhar comigo o seu número de conta bancária, eu saberei muito pouco sobre você. Mas se eu souber o seu endereço de Bitcoin ou Ethereum, eu posso descobrir muito sobre seus hábitos de transação, com quem você faz transações, seu volume de transações e outras informações sobre o blockchain público.

Nos últimos quatro ou cinco meses, houve tantos projetos incríveis que surgiram no campo da escalabilidade. Do ponto de vista de um investidor, minha alocação para projetos de escalabilidade talvez esteja cheia e estou mais interessada em ver projetos de operabilidade e privacidade entre os blockchains no futuro.

P: Qual é o potencial do blockchain para disruptar as indústrias e a sociedade e quais são suas limitações?

R: Muitas pessoas têm grandes aspirações quanto a tecnologia e acreditam que esta será uma tecnologia que provocará mudança nas nossas vidas. Nós sempre precisaremos de sonhadores. Mas acho que devemos esperar que isso mude automaticamente a forma como organizamos a vida.

Por centenas de anos, nos organizamos como uma empresa ou como organizações centralizadas. Esse modelo realmente não mudou muito, porque foi assim que descobrimos como gerenciar pessoas e fazer as pessoas trabalharem com o mesmo objetivo.

Neste momento, estamos experimentando se é possível ter incentivos suficientes no sistema, para que todos os atores se juntem naturalmente. Por exemplo, a iniciativa One Belt One Road, da China, está tentando alinhar mais de 60 países na esperança de promover o investimento em comércio e infraestrutura para essa região. A forma tradicional envolveria centenas de horas de pesquisa e reuniões, descobrir se um parceiro de negócios está certo, etc. Mas o que blockchain pode fazer é permitir que todos os parceiros qualificados entrem imediatamente em uma rede, todos trabalhando em direção ao mesmo objetivo com os incentivos adequados, constroem-se objetivos comuns.

P: 500 Startups não investem em ICOs (oferta inicial de moedas)?

R: Nós investimos em tokens e equidade. Tal como acontece com outras empresas tradicionais de capital de risco, os nossos fundos atuais enfrentam desafios com os nossos acordos (com parceiros limitados) que não permitem investimentos não patrimoniais. Mas nós alteramos uma das diferenças funcionais, então estamos investindo em tokens também. Se investimos em tokens ou em patrimônio, estamos totalmente de acordo com a elaboração dos planos de captação de recursos do projeto.

P: Há tantos projetos blockchain surgindo de todos os lados. Como você pretende rastreá-los?

R: Primeiro, queremos ver a expertise técnica da equipe em redes distribuídas e tecnologia blockchain. Então, a segunda parte é como os fundadores aplicaram esse conhecimento nos diversos setores nos quais foram oriundos e como a tecnologia pode ser aplicada no setor da indústria a qual ela está ligada. Saber qual o objetivo e como aplicar a tecnologia é fundamental para obtenção de recursos para o projeto. O que é diferente para os projetos blockchain, em comparação com os tradicionais investimentos em VC(Venture Capital) em estágio inicial, nos preocupamos muito com a comunidade do projeto blockchain. Isso significa que queremos analisar suas atividades no GitHub, como a codificação é atualizada e também a qualidade da conversa na comunidade, seja no Telegram, no WeChat ou em outro lugar.

Então, finalmente, queremos entender o modelo de negócios do token no projeto. Queremos entender a partir do whitepaper qual é a configuração do token, todo o processo que envolve o ICO, o que acontece no dia seguinte à conclusão do ICO, como gerenciar a distribuição do token, como eles gerenciam seus ativos críticos, se eles sabem como os custodiantes trabalham, etc.

P: Quanto tempo você daria para um whitepaper antes de passar para o próximo?

R: Bem, a primeira coisa é verificar se o projeto está dentro da nossa tese. Se for, então eu vou ler rapidamente para os fundadores e um resumo do projeto para decidir se há outros elementos interessantes que merecem ser explorados. Li mais de 150 white papers (ultimamente) e é muito impressionante.

P: Como foi sua curva de aprendizado no blockchain?

R: É com certeza uma experiência muito humilhante. Mesmo agora, a cada duas semanas, sinto que estou me afogando com tanta informação. Mas, ao mesmo tempo, sou o tipo de pessoa que tem que entender como tudo funciona se eu for puxar uma alavanca.

Então, foi realmente sobre gastar muito tempo para aprender sobre os aspectos fundamentais do blockchain e como ele é diferente das iterações anteriores da rede peer-to-peer, bem como os fundamentos da criptologia. Por fim, entender a economia da criptografia também é altamente importante.

P: Quais são algumas das principais tendências que você vê daqui para frente?

R: Veremos a batalha pelos usuários. Todo mundo lutará por desenvolvedores para construir seus projetos e competir por usuários. A outra tendência é que a indústria tradicional de serviços financeiros continuará a se mover para o blockchain.

P: Você está otimista em fazer bons retornos nos projetos blockchain que 500 Startups apoiou?

R: Claro, devemos ser. Nossos projetos contribuirão com um tremendo valor para o desenvolvimento do setor, mas isso não ocorrerá a curto prazo.

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