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Entrevista com Tiago B, o primeiro cliente a aderir ao acordo da Atlas Quantum com os clientes
A Atlas Quantum iniciou um novo acordo de ressarcimento com seus clientes de acordo com uma recente publicação no Facebook, um grupo de 17 pessoas conseguiu recuperar parte do dinheiro investido na empresa, através de uma nova proposta de pagamento e mais um grupo de 100 clientes devem aderir ao acordo, segundo Tiago B, o primeiro cliente a aderir ao acordo.
Tiago B (Tiago pediu que seu sobrenome fosse velado, por fins de segurança), conta que já recebeu o valor total oferecido pelo acordo da plataforma, e foi pago em Bitcoin. De acordo com as regras do novo acordo, o cliente recebe 20% do valor logo após aceitar a proposta da empresa.
Transação recebida de BTC (Reprodução:Blockchain.com)
Conversamos com o Tiago e ele expôs suas opiniões sobre os eventos em torno do caso da Atlas Quantum e sobre suas visões a respeito do acordo, sobre os grupos, sobre Rocelo Lopes e sua cruzada contra Rodrigo Marques.
Sua experiência mostra que, na crise enfrentada hoje pela Atlas Quantum, o caminho da negociação foi mais rápido e eficaz do que o do litígio?
R- Entendo que sim. Desde o início desse problema eu sempre fui a favor do diálogo. Me afastei de grupos que trabalhavam demais com FUD (Fear, Uncertainty and Doubt – Medo, incerteza e dúvida) e procurei me aproximar das pessoas e dos grupos que gostariam de chegar a alguma solução, algum tipo de acordo. Eu nunca acreditei nessa via judicial. Particularmente eu acho que só prejudica porque você acaba inibindo todas as possibilidades que a empresa tem de chegar a alguma solução, por exemplo: bloqueio de contas, até o risco de bloquear aí a carteira em alguma outra Exchange, e assim por diante. Por isso, entendi que o caminho judicial possa ser pior, seja para para os clientes que querem resolver de forma amigável ou para os funcionários ou para a própria Atlas.
Sem contar que às vezes o cliente entra com um processo, pede valores exorbitantes, correndo risco de prejudicar outros investidores e ex-funcionários. Digo isso porque dependendo da causa ganha, a multa e demais custos tornam o ônus financeiro ainda maior, prejudicando ainda mais o todo.
Existe hoje uma retórica muito inflamada contra a Atlas Quantum e seu CEO, Rodrigo Marques, devido aos problemas que se seguiram ao bloqueio das contas e ao não pagamento. Em sua opinião, seria correto dizer que essa atitude belicosa atrapalha a empresa em vez de contribuir para a sua recuperação?
R- Atrapalha sim, e em parte, eu acho que é responsabilidade da Atlas, sem dúvida. Um agravante foi por conta da falta de comunicação, o que acaba naturalmente, gerando um cenário de preocupação, porque as pessoas não sabem o que está acontecendo. Sobre uma retórica muito agressiva, eu concordo que atrapalha. Imagino que agora, com esses canais, que têm sido abertos é importante darmos um voto de confiança, ter paciência, aguardar um pouco. Sabemos que uma solução, para um problema dessa magnitude, não virá do dia para outro, não adianta sermos ingênuos. É difícil de resolver, exige tempo, paciência e calma. Agora que a Atlas está se reposicionando e procurando oferecer mais uma via de solução, então entendo que essa situação tende a melhorar, mas voltando a pergunta inicial, sim, concordo que atrapalhe. Essas críticas elevadas tendem a atrapalhar, porém como eu comentei, acho que a ausência de comunicação, acaba provocando ainda mais reações. Porém, agora, é momento de darmos um voto de confiança e avaliar como cada um dentro de deste contexto pode contribuir de alguma forma.
Quais são seus conselhos para os clientes que ainda não negociaram? Há algum caminho a seguir, alguma orientação específica, um canal de comunicação com a Atlas que possa facilitar a recuperação dos valores investidos?
R- Bom, o meu conselho, pra quem ainda não negociou, é que pense no todo e seja adepto ao diálogo, seja adepto a um acordo. Pense no todo! Pense que existem vários clientes que querem receber, pense que existem vários funcionários que ainda não receberam sua rescisão. Meu conselho é, pense no todo. Enfim, seja flexível. Nós como grupo devemos nos organizar nos próximos dias para elaborar essa lista e encaminhar para Atlas. Agora com relação aos trâmites do lado da Atlas eu particularmente não, não sei responder.
Essa lista que será encaminhada será composta de quantas pessoas? Tem uma noção?
No grupo do Telegram, nós temos um pouco mais de mil pessoas e sabemos que parte delas estão no grupo para acompanhar o desdobramento, porém não tem interesse nessa proposta de receber apenas o que foi investido. Porém, sabemos que boa parte dos clientes tem interesse sim em receber exatamente o que aportou. No mínimo, imagino que, pelo menos, 250 pessoas tenham interesse em negociar e aderir este molde de acordo.
No que tange ao acordo, sem precisar falar em valores, foi satisfatório para você?
R- Com relação ao meu acordo, estou satisfeito. Dentro do que tinha em mente, que era resgatar exatamente o que investi, fui atendido plenamente. Sabemos da restrição de capacidade de pagamento da empresa e exigir um valor exorbitante poderia prejudicar outros clientes de receber. Dentro daquilo que é justo, ou seja, a retirada daquilo que aportei, consegui chegar num acordo. Se tivesse que dar uma nota de zero a dez… não daria nota máxima porque a empresa poderia ter iniciado alguma coisa do gênero antes. Digamos que minha nota seria sete.
No que tange à narrativa constante de que a Atlas seria uma pirâmide, muito embora não tivesse os elementos típicos que caracterizam uma organização de níveis, em algum momento você chegou a concordar com essa visão?
R- Sabemos que empresas que são comprovadamente pirâmides tem algumas características. Retorno muito fora da realidade é um deles. Três a quatro por cento ao mês, como no caso da Atlas Quantum, seria algo factível. Então esse é um primeiro ponto. O segundo não tinha é que não tinha nenhum programa de recomendação, de indicação. Então, baseando-se nesses dois fatores, que são as principais características de uma pirâmide, digamos que não se aplica a Atlas.
Porém, o que me levou a investir foi o contexto como um todo. A empresa possuía um quadro de excelentes profissionais, e referências no mercado. Ponto dois, perfil de investidores. Nós sabemos que várias pessoas que investiram na Atlas, eram pessoas que conheciam o mercado. Ponto três, no LinkedIn, por exemplo, uma das empresas, mais desejadas para trabalhar. Quatro, Reclame Aqui, era campeã, quase não havia reclamação. Todos os problemas, perguntas, etc, a qualidade de atendimento era muito bem avaliada. Cinco, investimento de aceleradora. Poderia enumerar vários outros motivos, mas estes fatores me levaram a investir na plataforma e motivo pelo qual não acreditei que pudesse ser uma pirâmide.
Sobre essa proposta do Rocelo Lopes de pagar uma recompensa de 100 BTCs. Queria saber sua opinião a respeito.
R- Eu particularmente não gosto de fazer juízo de valor das pessoas. E com relação ao Rocelo não o conhecia e acabei conhecendo em meio essa situação da Atlas. Sob os aspectos positivos, ele contribuiu com iniciativas dentro da Stratum. Onde você pode utilizar o BTCQ para pagamento de taxa, onde você consegue ter um programa de indicação, com alguma alguma recompensa. Só não concordo com os meios e a estratégia que ele está seguindo. Enquanto o Rocelo defendeu uma linha, digamos de maior judicialização, eu segui pelo caminho do diálogo. Então esse seria um dos pontos de divergência que nós temos. Mas novamente como já comentei, entendo que as pessoas devam pensar no todo, pensar no objetivo em comum. Essa quantidade de ideias e opiniões divergentes, entendo que atrapalhem sim e eu pessoalmente prefiro o caminho do diálogo. E um outro ponto que eu não concordo, algumas vezes ele se manifestou favorável a sacar os seus investimentos na cotação um para um, porém, se isso for feito alguém vai deixar de receber, concorda? Se ele e os clientes que ele defende, receberem no modo um para um, eu imagino que não haverá recurso para arcar com todos os casos. Essa seria a minha crítica.
Por fim, a melhor forma do Rocelo contribuir neste momento é dando uma trégua para que a Atlas possa trabalhar nos acordos dos clientes.
Essa iniciativa de dar 100 BTCs para quem conseguir uma reunião com o Rodrigo Marques em Hong Kong, na minha opinião não tem efeito prático. Apenas sensacionalismo. Ou seja, um assunto para chamar atenção e que não irá gerar nenhuma solução aos clientes.
E para terminar: você acha que após esse processo todo se concluir, a Atlas teria condições de voltar ao mercado?
R- Essa é uma pergunta que eu acho que depende bastante da Atlas, sabe por quê? Porque os feedbacks são a melhor forma que nós temos de melhorar. Então, avaliando todo o histórico, o primeiro ponto que a Atlas deve avaliar são os questionamentos dos clientes. Então, sabemos que os clientes questionam muito a questão da transparência, de governança, e esse é um ponto que a Atlas deve endereçar. A comunicação com o cliente, é fundamental. Ela deve ter o cliente no centro. Esta deve ser a prioridade da Atlas. Os clientes buscam um bom atendimento é um bom produto. Portanto, se a Atlas resolver essas coisas ela pode sair dessa situação.
Particularmente procuro o lado positivo das coisas, a gente hoje tem mais de treze milhões de pessoas desempregadas e eu ficaria feliz em ver novamente a Atlas empregando pessoas. Acredito que tem condições de voltar, porém precisa corrigir esses pontos. Precisa extrair uma lição de toda essa situação.
Empreendedor, Cientista de Dados e cryptopesquisador.